sexta-feira, 6 de maio de 2011

Da Idade Média à Barbárie - Das crônicas da decadência do Império

Por *Bruno Linhares

A contribuição da Al Qaeda e das táticas terroristas dos setores mais radicalizados do wahabismo às causas conversadoras e à própria contraofensiva do Império não foi pequena. Seu mais destacado ato militar – a derrubada das Torres Gêmeas em Nova York no qual mais de 3.000 civis morreram, ocorreu em um período em que crescia a mobilização, nos países centrais e na periferia, contra as políticas neoliberais.

Nesta época ainda não havia se consolidado na América Latina o atual polo ativo contra o neoliberalismo. Mas as forças populares de democráticas buscavam se reorganizar a partir da realização de Fóruns Sociais Mundiais e inauguravam uma crescente ação com setores radicalizados para se opor as políticas e ações antipopulares, dominantes a partir da década de 1990. Grandes manifestações e marchas, como a Batalha de Seattle em 1999, entre outras, traziam esperanças de que finalmente teríamos reação de massas contra o triunfalismo liberal.

O clima político rapidamente se alterou a partir deste ato terrorista em Nova York. Sob o pretexto de Guerra ao Terror, o Governo norte-americano e seus aliados rearticularam a agenda conservadora e buscaram utilizar a xenofobia e o ultranacionalismo como cortina de fumaça para esconder as verdadeiras causas dos problemas dos trabalhadores e dos povos. Até hoje esta estratégia de criminalização de imigrantes, em particular os muçulmanos, tem grande audiência e segue como pedra fundamental do conservadorismo nos países do Capitalismo Central.

As teses e ações do radicalismo wahabita, com cor, textura e cheiro medievais, nada de bom trouxeram às causas progressistas. Mas o Império, com seu último ato de violência no assassinato a sangue frio de Osama Bin Laden, regride à esfera da Barbárie. Não há justificativa ou amparo nas leis internacionais a uma operação unilateral em território de outro país e ainda menos para o assassinato de um combatente desarmado e rendido. É notável a semelhança com os assassinatos de Che Guevara e de Patrice Lumumba, em todos os outros aspectos personagens muito diferentes de Bin Laden.

Agora, o Império desnuda-se dos véus de hipocrisia e assume a ação direta em um assassinato, quando antes o fazia por intermédio de regimes fantoches. Trata-se de um processo de decadência. As leis e os organismos internacionais que julgaram e julgam crimes de Guerra, no qual se inscrevem as nefastas ações da Al Qaeda, não servem ao Governo norte-americano, que deseja “fazer a justiça pelas próprias mãos” em ritos sumários e sangrentos.

A desfaçatez e o descompromisso com os Direitos Humanos tem continuidade com a sinistra discussão da contribuição da tortura de prisioneiros para o “sucesso” da operação. Altos funcionários e ex-funcionários debatem o tema pela imprensa, sem a menor vergonha. Neste debate, chegamos a saber que determinado prisioneiro foi submetido “183 vezes ao afogamento simulado” ao longo do seu período de detenção. Exatidão que nos faz lembrar as práticas estatísticas nos campos de concentração nazistas.

As pessoas de bem e as forças democráticas e progressistas mundo afora não podem se furtar à condenação desta operação, que se insere em um quadro de desrespeito às leis internacionais junto com a manutenção da prisão de Guantánamo e de outras práticas da estrutura repressiva do Governo norte-americano. Se as ações terroristas contra civis são extremamente condenáveis, venham elas da parte de grupos insurgentes ou de Estados, também as ações militares tem regras e normas. Isto é uma conquista da civilização, agora ameaçada.


*Bruno Linhares é filiado ao PT e membro da coordenação estadual da Democracia Socialista do RJ.

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